quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carnaval: O elogio da nossa civilidade

Carnaval: O elogio da nossa civilidade

Por David Nelson Araujo Campos

                   Mais uma vez, assistimos ao festival de horrores do carnaval brasileiro, agora, com a corrupção escancarada da festa popular, tivemos brigas e depredação do patrimônio público. Numa discussão entre amigos, ouvi a seguinte exclamação: - A culpa é dos políticos! Mas, será que somos tão diferentes deles?
                   A votação do carnaval paulista demonstrou como somos capazes de nos organizar com o jeitinho brasileiro, numa perfeita ilustração do Palácio do Planalto. Engraçado, a troca de dois jurados às vésperas do desfile e, além disso, as notas tão estranhas como 9,6 da Vai-Vai e o 8,9 dos Gaviões da Fiel no quesito evolução! Rsrsrs! Por outro lado, o descontentamento de tais escolas, também demonstrou como não sabemos nos mobilizar socialmente, destruindo aquilo que foi construído com o suor de milhares cidadãos, através dos impostos.  A depredação do patrimônio público e os riscos que alguns torcedores dos Gaviões da Fiel propiciaram às pessoas que voltavam de viagem ou do trabalho em plena Marginal Tietê foram atos vergonhosos que me deixaram triste por torcer a tal agremiação   
                   Sabemos que, nessa história, os verdadeiros culpados corruptos se sairão bem, e, assim, reproduziremos a nossa civilidade, punindo os pobres e dando troféus aos ricos. A revolta generalizada contou com membros do Império da Casa Verde, Vai-Vai, Camisa Verde e Branco e Gaviões da Fiel, mas, quem, realmente, começou tudo aquilo, por acaso, não foi aquela famosa estrutura patrimonialista e patriarcal?! Acho que precisamos abrir uma CPI do Carnaval! Provavelmente, puniremos os corruptos! Quem sabe assim, eles não acompanharão os nossos líderes políticos em rodadas de uísque no Morumbi, após a dramática simulação de justiça!
                   O carnaval, nossa disciplinada e programada loucura! Precisamos fatiar o tempo com nossas convenções, como dizia Thomas Mann, enjaulá-lo por eventos que contrariam a realidade do chamado aqui e agora. A empregada doméstica e o catador de lixo viram reis e rainhas com o estandarte de mestre-sala e porta bandeira, enquanto que, no decorrer dos outros dias do ano, são maltratados por conta de sua condição social, marginalizados e excluídos de qualquer bom restaurante do bairro de Pinheiros.
                   Enfim, não somos tão diferentes deles, vestimos máscaras para nos esconder da dura realidade, conferindo legitimidade às ações ineficazes do governo, pois, afinal de contas, estamos contentes com nossa política social de corte orçamentário na educação e saúde, tornamos um evento popular em show da república dos padrinhos, corrupção e lavagem de dinheiro, destruímos o que construímos, através da depredação do patrimônio público, e não daquilo que “eles” sedimentaram na nossa nação, contudo ainda somos cobaias dos deuses. 

Um comentário:

  1. Outro dado intrigante foi o fato da Mocidade Alegre receber nota 10 em todos os quesitos, por todos os jurados, pois, após a mudança do critério de notas inteiras para casas decimais, a vitória unânime de uma escola é algo duvidoso e constrangedor.

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